Sessão sobre a Economia · 12 de Junho

O que poderia estar melhor? O que faz falta? O que é preciso manter e defender?

No dia 12 de Junho falámos da Economia.

Este foi o nosso segundo encontro temático (depois do do Ambiente). Em conjunto pensámos o consumo e a geração de riqueza local, o potencial de colaboração, a capacidade produtiva e de transformaçao de produtos no concelho, a autonomia energética, a relação com a agricultura e o ambiente, a mobilidade, e mesmo como reter e/ou atrair gente e jovens para a nossa terra, e de como os fazer ficar por cá.

Qual foi o método usado?

A elaboração das propostas resultou da descrição da situação actual, dos impactos observados desta situação no nosso dia-a-dia, das necessidades identificadas que daí resultam e dos impactos desejados da resolução destas necessidades.

  • Situação actual: onde descrevemos o que observamos, baseando-nos nos nossos sentidos e na descrição clara do que acontece, como primeiro passo para resolver uma dada situação
  • Impactos observados: onde descrevemos de maneira pragmática, sucinta e objectiva os impactos que as situações observadas nos criam.
  • Necessidades identificadas: o que faz falta acontecer para mitigar ou prevenir os impactos identificados? O que nos falta saber para os resolver?
  • Impactos desejados: o que acreditamos que sejam os impactos resultantes da resolução destas necessidades?

Focámo-nos em quatro sub-temas, que resultaram da recolha feita na sessão de 15 de Maio: o Despovoamento, a Autonomia Energética Local, o Consumo e Comércio Local e a Produção Sustentável e Colaborativa. Estes sub-temas foram analisados e discutidos em grupos, para depois desenvolver as primeiras propostas. No final, estas propostas foram situadas numa linha de tempo, ao longo de uma eixo entre aquilo que é da competência da Câmara Municipal e aquilo a que pode ser abordado desde a iniciativa cívica.

Foram elaboradas as seguintes propostas:

Despovoamento

  • Desenvolver uma política de acolhimento a recém-chegados:
    • Acesso à habitação (melhor e mais solidária),
    • Acesso a cursos de língua portuguesa,
    • Estabelecimento de um “pelouro do acolhimento”, inclusive gabinete de orientação e apoio a projetos de desenvolvimento local por jovens,
    • Estabelecer condições para a fixação de famílias numerosas,
    • Ligar acesso à habitação à política de acolhimento e mobilidade.
  • Criar uma nova narrativa do que é a “Vida no Campo” / em Montemor:
    • Comunicar melhor a cidade,
    • Promover Montemor-o-Novo como capital da Regeneração,
    • Bidireccional – sensibilização de montemorenses já residentes para a participação em esforços de acolhimento aos novos habitantes.
  • Aposta na formação em lavoura e cultura no concelho.
  • Promover a “desinstitucionalização” das populações idosas:
    • Apoio domiciliário,
    • Melhorar condições de vida no campo / mobilidade.

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Situação actual: Passámos de 30.000 pessoas em 1970 para 15.000 actualmente. Há movimentos de população do campo para a cidade, e do concelho para fora. Muitos jovens ambicionam estudar fora e não voltam. Há menos nascimentos locais. Há falta de habitação acessível. Há algumas pequenas comunidades a aparecer no campo.

Impactos observados: Decréscimo da população. Menos redes de solidariedade (sobretudo intergeracional). Menos pessoas nos meios rurais. Menos desenvolvimento social, económico e cultura.

Necessidades identificadas e impactos desejados:

  1. Necessidade identificada: Que apoio há para projetos/pessoas que se querem instalar em Montemor-o-Novo? É preciso mais divulgação e apoio de facto.
    Impacto desejado: Que pessoas e ideias que considerem vir para Montemor se sintam apoiadas. Aumento de população nos próximos censos.
  2. Necessidade identificada: “Parar a sangria” de jovens para fora do concelho.
    Impacto desejado: Mais jovens a considerar viver/voltar para Montemor-o-Novo.
  3. Necessidade identificada: Aceso ao ensino da língua portuguesa.
    Impacto desejado: Receção a estrangeiros e famílias. Retorno de jovens após educação superior. Mais focos de interesse para retenção.
  4. Necessidade identificada: Pensar políticas de acolhimento de novas pessoas e famílias.
    Impacto desejado: Aumento de população fixada nos meios locais.
  5. Necessidade identificada: Focar na formação para lavoura e cultura.
    Impacto desejado: Fixação de novas pequenas comunidades de intenção e produção.
  6. Necessidade identificada: Projetos educativos alternativos. Impacto desejado: Atrair famílias e pessoas à procura de formas de vida (e educação) alternativas.

Autonomia Energética Local

  • Promover a sensibilização para o menor consumo energético.
  • Rever o contrato de abastecimento elétrico, e considerar distribuidoras alternativas de energia.
  • Fazer estudo de viabilidade para criação de estruturas de produção de energia alternativas, redução de consumo energético e transformação de matérias primas locais.
  • Correção do número de postes de eletricidade – em alguns lugares há iluminação excessiva.
  • Melhor gestão da floresta e das podas sazonais.
  • Explorar novos modelos de gestão e de negocio capazes de incentivar a produção local, por via de acesso à terra, e responder às necessidades dos proprietários.
  • Alcatroar as vias comunitárias entre Alcácer-Montemor-Vendas Novas, capazes de promover maiores ligações entre os concelhos

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Situação actual: Não há produção local de energia.
Impactos observados: Fatura da EDP para o concelho é elevada.
Necessidades identificadas: Conhecer o valor da fatura da eletricidade do concelho e quanto se poderá poupar com a) produção local, b) redução de consumo e c) com alternativas de distribuição.

Situação actual: Consumo excessivo de energia no município.
Necessidades identificadas: Saber se é possível a produção de eletricidade nas azenhas do Almansor – com que custos/produção? (E perceber se/como os proprietários estariam dispostos a re-qualificá-los e vender energia à rede.) Saber se o parque eólico de Cabrelas é privado ou público.

Situação actual: Pouca ou nenhuma sensibilização para reduzir o consumo energético.


Impactos observados: Iluminação já é LED mas não é automática e fica acesa toda a noite.
Impactos desejados: Instalar iluminação automática.

Situação actual: Ausência de alternativas de distribuidoras de energia (só EDP).
Necessidades identificadas: Explorar opção de produção de energia por biogás.

Situação actual: Ainda se utiliza aquecimento “fóssil”.
Necessidades identificadas: Sensibilização para o uso (excessivo) de lenha.

Consumo e Comércio Local

  1. Promoção ativa da Moeda MOR:
    1. Comunicar e alocar fundos,
    2. Estabelecer parceria oficial entre a Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e a A.MOR,
    3. Criar vouchers do município em MOR,
    4. Aceitar MOR como meio de pagamento (piscinas, cultura, serviços, etc.),
    5. Possibilitar pagamento parcial de salários a funcionários em MOR,
    6. Estabelecer um espaço dedicado apenas a comércio em MOR.
  2. Formação de capacidades de “reparação”:
    1. Canalização, eletricidades, etc.,
    2. Apoio à inserção no comércio local (ex: aumentar a capacidade de resposta do pos-venda),
    3. Feira de ladra e artesanato (nas freguesias também?).
  3. Mapear o tipo e quantidade de consumos em Montemor, de modo a entender como encurtar cadeias de valor.
  4. Promover aumento de afluência ao comércio local:
    1. Carrinho de compras e aumento de estacionamento perto de comércios locais,
    2. Mapear e entender necessidades do comércio local.
  5. Promover a produção local:
    1. Roteiro em bicicleta a conectar produtores,
    2. Feira de Maio (exclusiva para produtos e produtores locais),
    3. Formações contínuas em transformação de matérias primas locais.

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Situação actual: Consumidor comum ainda prefere grandes superfícies às pequenas/locais.
Impactos observados: Pouca afluência ao comercio local.
Necessidades identificadas: Mapear produtos importados; Medir impacto de iniciativas para orientar estratégias futuras de produção.
Impactos desejados: Reativar a Feira de Maio (promover artistas e artesanato, música, etc.); Incentivar a reparação em vez de promover a compra de novo..

Situação actual: Pouco artesanato / pouca produção local.
Impactos observados: Enfraquecimento de negócios pequenos/familiares.
Necessidades identificadas: Roteiro para bicicleta do comércio local; Melhorar acessibilidade ao comércio local; Promoção de uma prateleira local nos supermercados.
Impactos desejados: Aumento de afluência ao comercio local.

Situação actual: Pouca matéria-prima para a transformação local.
Impactos observados: Dependência (alimentar e outras) das grandes distribuidoras.
Necessidades identificadas: Promover o consumo consciente e ativista; Criar um programa de produtos locais (tipo revista de Natal)..
Impactos desejados: Mapeamento / dinamização de rede de trabalho sobre regeneração alargado (servir de exemplo a nível nacional).

Situação actual: Impacto da crise pandémica levou ao fecho de tascas e pequenos negócios.
Impactos observados: Pouca autonomia local.
Necessidades identificadas: Promover e usar mais a “prata da casa”; Reforço da oferta local.

Situação actual: Pouca noção da oferta local / riqueza local.
Impactos observados: Meio rural muito terceirizado.
Necessidades identificadas: Promover e reforçar a identidade local.

Situação actual: Existe já a moeda local MOR.
Impactos observados: Pouca disponibilidade de serviços de manutenção (canalização, elétrico, costura, carpintaria, etc.).
Necessidades identificadas: Apoio à divulgação da moeda local; Desenvolvimento de vouchers da Câmara Municipal em MOR.
Impactos desejados: Aumento da circulação e importância da moeda local.

Situação actual: Artesãos não conseguem dedicar-se exclusivamente à produção.
Impactos observados: Pouca produção para venda ao público.
Necessidades identificadas: Formação de mais artesãos e disponibilização (apoio à produção) de materiais locais.
Impactos desejados: Conseguir mais pessoas capazes de fazer serviços biscateiros.

Situação actual: Não há feira artesanal ou medieval.
Necessidades identificadas: Feira das colheitas / outras, exclusivamente com produtos e produtores locais; Reativar feiras de freguesia.
Impactos desejados: Aumento de oferta de produtos locais sustentáveis.

Necessidades identificadas: Montemor Capital da Regeneração.
Impactos desejados: Aumento de visitantes.

Necessidades identificadas: Repor o espólio de museus locais e expo-los, promovendo visitas (ex. Escoural).

Produção Sustentável e Colaborativa

  1. Apontar a uma gestão da riqueza (de tempo) – 6 meses de trabalho, 6 meses de “férias”:
    1. Até ao meio-dia: Suprimir “pseudo-necessidades” cooperativamente,
    2. À tarde, ensaiar o livre arbítrio e os seus frutos,
    3. Procurar alcançar os 12 meses de “férias”, interrompidos apenas por momentos de criação “com” e não “por”.
  2. Fazer de Montemor-o-Novo a Capital da Regeneração Agroflorestal.
  3. Recuperar a EPAC e estabelecer equipamentos comuns/colaborativos de produção, transformação, armazenamento e embalamento:
    1. Máquinas agrícolas, infraestrutura de moagem, destilação, lagar bio, serração, serralharia, adega vinho/vinagre, padaria, queijaria, desidratação, cortiça, cozinha comunitária, matadouro móvel.
  4. Oferecer formação profissional em práticas regenerativas e “apetecíveis”.
  5. Apoio à gestão económica familiar/coletiva.
  6. Valorização de produtos locais tradicionais por via de investigação científica capaz de lhes desenvolver valor acrescentado, procurando:
    1. Atrair investidores
    2. Fixar população técnica-especializada, com foco em regeneração, criação de valor local, investigação, novos modelos de negócio e de produção.

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Situação actual: Má gestão de riqueza = 11 meses de trabalho, 1 mês de férias.
Impactos observados: Stress, falta de tempo para viver – só sobreviver.
Necessidades identificadas: Baixar custos de vida e pagar justo pelo trabalho / produção.
Impactos desejados: Mais pessoas, mais saudáveis.

Situação actual: Produtos consumidos no concelho são quase todos importados.
Impactos observados: O dinheiro sai todo de Montemor; Insegurança económica (alimentar e de outros bens essenciais).
Necessidades identificadas: Criar oferta para procura.

Situação actual: Monocultura intensiva, grande escala, exportação, vacas, vinha, porcos, milho.
Impactos observados: Erosão, contaminação, esgotamento de recursos – e tudo para pouca criação de valor.
Necessidades identificadas: Promover praticas agroflorestais regenerativas e de alto valor acrescentado, através da transformação local.

Situação actual: Ausência de capacidade de transformação de matérias primas.
Impactos observados: Dependência de importações e não-fixação de populações especializadas.
Necessidades identificadas: Criar estruturas de transformação comuns a nível municipal, acessíveis a produtores e empresas locais, bem como equipamentos para uso coletivo (produção, transporte, etc.).

Situação actual: Dependência dos subsídios da PAC.
Impactos observados: Crescente desigualdade económica e dificuldade de acesso à terra e à água; Falta de visões de longo prazo para a agricultura do concelho.
Necessidades identificadas: Procurar alternativas de rendimento para além da dependência da PAC.